sábado, 18 dezembro, 2010 20:34
Prefiro
o barulho da imprensa livre ao silêncio da Ditadura
|
|
|
|
|
Valter
Campanato/Abr |
|
|
 |
|
|
A
presidente eleita, Dilma Rousseff e diplomada no Plenário
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) |
|
|
|
|
É altamente provável
que nossa nova presidenta, seja um divisor de águas
na história política do Brasil. A frase do
título, saiu da boca de Dilma Rousseff no final de
outubro e desejo eu, seja o Norte de sua atuação
presidencial.
Leio as entrelinhas
dessas declarações, porque ela viveu (e tantos
outros que não viveram para ver), passou por situações,
em décadas idas, de absoluto barbarismo, enquanto
o "País ia para a Frente" e a Jules Rimet,
desfilava radiante pelas grandes avenidas do Brasil.
Quando se tem uma imprensa
verdadeiramente livre, pode-se ler, ouvir e pensar para
se fazer juízo de valor através de ponderação
e bom senso e não através de massificação
propagandística. E quanto mais antenado for o governante,
ou o cidadão, melhor. Decisões sábias
só são robustas se houver espaço para
o contraditório.
Imprensa livre, não
significa blasfemar, significa deixar que se fale e se escreva
o que se julgar adequado, tendo a Constituição
como fiel soberano da balança. Para não ir
muito longe, talvez tenhamos aí algumas gerações
acostumadas a chamar de imprensa, apenas os grandes veículos
de comunicação, a ouvir notícias pasteurizadas
e filtradas com tom de nota oficial.
Esse mesmo grupo de
comunicadores, corre a batizar de "mídia alternativa",
"mídia popular", "mídia informal",
"cinegrafista amador" tudo quanto é informação
que chegue ao conhecimento público e que não
foi produzida originalmente por eles. Prevalecendo assim
a idéia que é o padrão jornalístico
ditado por eles que é o certo e através do
qual a "opinião pública" deve pautar
suas opiniões.
Em essência o
brasileiro parece muitas vezes à espera do "sim"
do Imperador, disposto a se considerar como súdito
ao invés de cidadão, a transferir a responsabilidade
às autoridades, achando que são elas que vão
resolver os "problemas".
O caráter generalista
da informação dos grandes grupos de comunicação,
induz de certa forma o cidadão a pensar que a vida
é uma novela, sem sentimento, cinematográfica
até. De certa forma, o jornalismo opinativo e raciocinado
está banido das grandes redações e
também das faculdades de jornalismo. O Brasil generalista
não se discute, se acompanha como uma grande novela.
Não se pode considerar
exótico o Porradão
de 20 do Celso Athayde, ou o Observatório
de Favelas, ou a Rede
de Comunidades e Movimentos contra a Violência,
porque ali circulam informações muito próximas
da realidade "real" de parcelas significativas
da população do país, muitas vezes
privadas dos confortos e mesmo do básico, que a tecnologia
de hoje permitem. É altamente salutar, consultar
esses veículos de imprensa, todos os dias, com o
mesmo interesse que possam despertar os veículos
de grande circulação ou de massa para podermos
penetrar na realidade de coisas que acontecem todos os dias,
debaixo das nossas barbas, sem sequer nos darmos conta.
E não é para concordar ou discordar, é
para saber mesmo o que pensam e porque pensam até
que possa haver inclusão de todos. Estamos vivendo
a Era da Comunicação.
Esse espírito
marginal que alguns intelectuais cultuam, esse ar chique
que se quer dar a uma pretensa eterna pobreza, amarra o
país no atraso, concentra renda, cria abismos, cria
uma estética distorcida e por vezes se torna a "justificativa
legal" para a manutenção de certos "status
quo" que desmoronam literalmente, nas épocas
de chuva ou quando como recentemente a polícia e
as forças armadas enfrentaram no Rio de Janeiro,
que vistas apenas pela ótica da grande imprensa,
passam a imagem do "bem contra o mal" e de que
tudo voltou à normalidade.
Mas o país de
verdade ainda está lá, com baixos salários,
com subemprego, com prostituição infantil,
com falta de escolas, saúde e por aí vai.
O que eu penso de imprensa
livre é gente de todos os matizes sociais, manifestando
seus pontos de vista, fazendo denúncias, despasteurizando
o cenário oficial que insiste em se expôr como
o correto.
Toda tutela é
aceitável, até que o tutelado esteja pronto
para seguir por si mesmo. Tornar a tutela eterna, como se
faz muito no Brasil ainda, só provoca o retrocesso,
deifica uns e demoniza outros e rouba todo poder de escolha.
Portanto é uma
questão de primeiríssima ordem, reorganizar
o país, coisa que só é possível
com o desencastelamento das instituições e
a convivência harmônica dos poderes com respeito
às realidades locais e atacar com todo o vigor as
deficiências estruturais da pátria.
Temos dado passos, tímidos,
mas me parece que a porta se abriu e não se fecha
mais. Está faltando um pouco de humildade dos que
governam e um pouco de auto-estima dos governados, para
que as decisões não sejam distantes das verdadeiras
necessidades. Perguntar a opinião de todos é
trabalhoso, mas absolutamente fundamental para que o resultado
seja o mais próximo possível da realidade
prática.
A imprensa livre entra
aí, mostrando prós e contras; não pretendendo
verbas publicitárias ou alfinetando em nome de determinado
grupo político ou econômico, mas proporcionando
a oportunidade de geração do bem comum.
Senão estaremos
ainda remando contra a maré, atrasando o verdadeiro
desenvolvimento do país e criando guetos, que pela
própria natureza do ser humano, vai criar regras
próprias, verdades próprias, autoridades próprias,
em absoluto descompasso com a parcela sonhadora das pessoas
que só assistem um canal de TV, leêm um único
jornal, até que eclodam os confrontos e as Bastilhas
caiam e o ciclo vicioso recomece.
Dilma Rousseff tem a
chance de somar tijolos importantes nesse processo e nós
também; e o único caminho ou a grande porta
é a liberdade de expressão sem marcos regulatórios.
Para os desvios já temos Código Penal e Código
Civil.
Leia também:
WikiLeaks
como estado de espírito
Quo
Vadis Wikileaks?
Wikileaks,
antibióticos e a lei seca
A
"guerra" do Rio e nossos 200 anos de atraso