sábado,
5 dezembro, 2009 15h16
Consciência
Negra e brasilidade
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Arte
sobre foto / Pedro Reis - FarolCom |
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Hoje, há um sentido muito forte
de pertencimento étnico ao grupo formando por
pretos, pardos e negros.
Isso é resultado direto de mais de 30 anos
de ação política do Movimento
Negro, das políticas afirmativas, pelas quais
membros do grupo étnico negro são beneficiados
com ofertas de serviços, programas e equipamentos
públicos voltados para suprimir as desigualdades
sociais e raciais nos mais diversos níveis
e de uma maior inserção do elemento
negro nos meios de comunicação, principalmente
a partir das deliberações da Conferência
de Durban – que tratou do tema do combate ao
racismo, realizada em 2001, e das atividades de comemoração
dos 500 anos da descoberta do Brasil, no de 2000.
Esse conjunto sistêmico amalgamou e foi o responsável
pela boa situação em que se encontra
o principal grupo humano que formou e deu identidade
ao Brasil. Nesse viés é possível
falar, inclusive, do surgimento do negro-brasileiro.
Ou seja, do agrupamento humano que orgulhosamente
trouxe suas raízes da África, se sanduichou
da cultura europeia e se misturou a outros tantos
povos que aqui vieram fazer residência, como
os turcos, árabes, japoneses, formando assim
uma nação nova, una e absolutamente
inédita, a nação brasileira.
A quantidade de detalhes tem ainda um capítulo
especial feito e construído pelos povos indígenas,
que também reivindicam participação
nesse estrato social. As dores do passado e o ranço
não deram lugar ao um conflito racial da parte
negro-índigena, mas ao contrário, esses
sempre buscaram a integração e o convívio
pacífico com o estrangeiro. Quem empregou a
discórdia foram os alienígenas motivados
por interesse de classe e a serviço da exploração
comercial daquilo que a nação brasileira
tinha de mais vantajoso.
A tortura, os maus-tratos e o açoite nas senzalas
eram empregados para forjar um domínio estamental
e criar uma “raça” branca privilegiada
e parasitaria. Portanto, o racismo teve e tem uma
função estratégica para continuar
o domínio de um grupo humano sobre o outro
e dar manutenção aos privilégios
de classe, consolidando assim a hegemonia cultural,
econômica e política da elite sobre os
demais elementos étnicos; cuja tonalidade e
intensidade da exploração comercial
eram feitos por meio de uma subliminar e invisível
discriminação racial apoiada pela ideologia
da tranqüilidade no convívio e acesso
aos bens econômicos produzidos pelo suor de
índios e negros.
Essa exploração só agora começa
a ser eliminada. Dessa forma, o despertar da consciência
negra traz consigo a elevação da autoestima,
o inicio do fim de toda forma de preconceito e um
grande sentimento de brasilidade, como local em que
se realizam concretamente a vida, o desenvolvimento
das relações sociais e onde acontecem
a cidadania de fato. Brasilidade e negritude, no nosso
caso, são elementos intrinsecamente formadores
da Pátria, elo maior que nos une.
E essa pátria tem um sabor reconhecidíssimo
ainda melhor, pois tem conteúdo da mais antiga
tradição africana, toda a bravura indígena
e a contribuição dos elementos alienígenas,
pela qual a miscigenação – à
força ( com os estrupos, violência sexual
e depuração étnica ) ou como
agente civilizacional -, fez nascer esse povo brasileiro;
com suas contradições, mazelas e esperanças
em fazer do Estado brasileiro um ente promotor da
paz e desenvolvimento em que as atuais políticas
afirmativas terão papel fundamental para tornar
pratica o sonho de justiça social, não
a um grupo, somente como acontecia no passado escravista,
mas a todos e todas sem distinção.
Alexandre
Braga | Coordenador de Comunicação
da UNEGRO e membro do Fórum Mineiro de Entidades
Negras - [email protected]