sexta-feira,
17 julho, 2009 18:38
Amazônia
terá torre da altura da Eiffel para monitoramento
do clima
Com
recursos assegurados da ordem de R$ 24 milhões, Brasil
e Alemanha estão realizando um sonho acalentado pela
comunidade científica desde a década de 1980:
a implantação do projeto Observatório
Amazônico de Torre Alta (ATTO, na sigla em inglês
de Amazon Tall Tower Observatory), que implicará
a construção de uma estrutura de 300 metros
de altura, no meio da floresta.
Reforçando
a atual rede de 15 unidades de até 50 metros, a nova
torre a ser edificada – com a mesma altura da Torre
Eiffel, em Paris – multiplicará as condições
de monitoramento das mudanças climáticas na
região, informou Antonio Ocimar Manzi, pesquisador
do Instituto Nacional de Pesquisas do Amazonas (Inpa) e
gerente do projeto pelo lado brasileiro. Manzi contou detalhes
do projeto ATTO em uma conferência nesta quinta-feira,
16, durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em
Manaus, AM.
Fruto
de um convênio entre o Ministério de Educação
e Pesquisa da Alemanha e o Ministério da Ciência
e Tecnologia brasileiro, o Observatório fará
a “escuta” da “conversa” da biosfera
com a atmosfera. A torre de 300 metros será instalada
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uatumã,
em Presidente Figueiredo, município a cerca de 200
quilômetros de Manaus. Só existe uma experiência
similar, na Sibéria.
A torre
de 300 metros será rodeada por quatro torres meteorológicas,
de até 50 metros. Manzi estima que o sítio
experimental do projeto terá vida útil de
20 a 30 anos.
Contando
com parcerias de universidades e institutos da Alemanha,
Brasil, Finlândia, EUA e Holanda, o Observatório
terá em sua mira o efeito estufa, a documentação
e quantificação das mudanças biogeoquímicas,
os desmatamentos, as queimadas, as chuvas e a substituição
das florestas por outras vegetações e por
projetos agropecuários. Em resumo, os cientistas
querem ver até onde a floresta amazônica se
relaciona com o fenômeno do aquecimento global. A
iniciativa é denominada pelos pesquisadores como
“Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia”.
Os investimentos
e custos de construção e operacionalização
do projeto, explica o pesquisador do Inpa, serão
compartilhados meio a meio por Brasil e Alemanha. Os R$
12 milhões da parte brasileira sairão dos
fundos setoriais transversais administrados pela Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep).
Para
acelerar o processo de implantação, a Alemanha
já definiu os nomes de um gerente (Jürgen Kesselmeir)
e o pesquisador-líder em Manaus (Jochen Schoengort).
Do lado brasileiro, falta escolher o pesquisador-líder.
Além da análise de solo e ambiente locais
visando à construção da torre, a equipe
está detalhando as linhas de pesquisa e o modelo
operacional do ATTO. Com cronograma já aprovado e
recursos garantidos, Ocimar Manzi espera que as torres fiquem
prontas dentro de dois anos. Um dos desafios, assinalou,
passa pela disponibilidade de energia elétrica.
Ainda
de acordo com o gerente local, as chuvas e o estoque de
carbono receberão atenção especial
do Observatório. “A importância pode
ser medida pelo fato de aqui, na Amazônia, chover
o dobro do que a média mundial”, sublinhou
Manzi. Destacou, igualmente, o grande estoque de carbono.
“São 100 bilhões de toneladas na biomassa
e outras tantas no solo, ou seja, vinte vezes mais do que
o estoque mundial”. A questão energética
apresenta-se como uma preocupação estratégica
dos parceiros envolvidos.
“O
complexo de torres propiciará, em síntese,
as condições para a comunidade científica
conhecer e dominar todos os mecanismos da camada de ozônio
limite em escala planetária”, concluiu o pesquisador
do Inpa.
Moacir
Loth, da UFSC, para a Agência SBPC