sábado,
18 julho, 2009 19:25
Indígenas
brasileiros à frente de Galileu Galilei e Isaac Newton
Os
indígenas brasileiros fizeram uma descoberta que
Galileu Galilei ignorou e Isaac Newton chegou à mesma
conclusão somente quase um século depois:
que a lua é a principal causadora das marés.
E
que a pororoca, o fenômeno provocado por elas, em
que as águas bravias do mar se chocam violentamente
contra as de rios, como do Amazonas, dando origem a grandes
ondas, ocorre próxima às fases da lua nova
e cheia, conforme hoje se sabe e eles já descreviam
em seus antigos mitos.
O
pioneirismo dos índios brasileiros foi descoberto
pelo o astrônomo Germano Bruno Afonso, professor visitante
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) na Universidade Estadual do
Mato Grosso do Sul (UEMS). O especialista abordou este assunto
nesta sexta-feira, 17, em uma conferência realizada
durante a 61ª Reunião da SBPC em Manaus, AM.
Segundo
o astrônomo, em 1632 Galileu publicou o livro “Diálogo
sobre os dois máximos sistemas do mundo: ptolomaico
e copernicano”, em que afirma que a principal causa
das marés seriam os dois movimentos circulares da
Terra: o de rotação em torno de seu eixo,
que ocorre todos os dias, e o de translação
em torno do sol, que acontece anualmente, desconsiderando
a influência da Lua. Somente em 1687, Isaac Newton
demonstrou que a causa das marés é a atração
gravitacional do sol e, principalmente, da lua sobre a superfície
da Terra.
Porém,
antes da publicação da obra de Newton, em
1614, o missionário capuchinho francês Claude
d’Abbeville publicou em Paris o livro “Histoire
de la mission de pères capucins en l’Isle de
Maragnan et terres circonvoisines”. Na publicação,
d’Abbeville narra suas observações do
convívio por quatro meses com índios tupinambás,
da família dos tupi-guarani, no Maranhão,
perto da Linha do Equador.
Uma
das anotações do missionário francês
diz que “os tupinambás atribuem à lua
o fluxo e o refluxo do mar e distinguem muito bem as duas
marés cheias que se verificam na lua cheia e na lua
nova ou poucos dias depois”. O que confirma o conhecimento
por esses povos da relação entre as marés
e as fases da lua muito antes das teorias de Galileu e de
Newton.
Descobertas
– No final da década de 1970, Afonso fez seu
doutorado na França, onde teve acesso ao livro de
d’Abbeville, em que o capuchinho francês menciona
alguns nomes de constelações em tupi, tais
como, “curuçá” (cruzeiro do sul),
“seichu” (plêiades), “tuibaé”
(velho) e “nhandutim” (ema). Ao analisá-los
mais detidamente, constatou que as constelações
tinham correspondentes em guarani, hoje, embora estejam
separadas pela distância – em mais de três
mil quilômetros – e pelo tempo, em cerca de
quatrocentos anos. Baseado nessa descoberta, começou
a estudá-las em todas as regiões do Brasil.
“Em
outros países, essa disciplina, a etnoastronomia,
é muito estudada. Já se sabe muito sobre os
incas, maias e navajos, por exemplo. Mas sobre os índios
brasileiros, não se conhece nada. Só é
possível ampliar o conhecimento sobre eles em trabalhos
de campo, porque não existe nada nas bibliotecas”,
avalia o especialista, que fez outra grande descoberta ao
justamente se embrenhar em um desses trabalhos de campo.
Em
1991, arqueólogos acharam às margens do Rio
Iguaçu, no Paraná, onde estava sendo construída
uma hidrelétrica, um material arqueológico
que não conseguiram entender seu significado. Ao
estudar a rocha vertical, o pesquisador identificou que
se tratava de um instrumento de observação
solar, conhecido como “gnômon”. “Ele
tinha quatro faces talhadas para os pontos cardeais. Fui
falar com os guaranis daquela região, para ver se
aquilo tinha sentido para eles, e percebi que havia. Depois,
encontrei instrumentos semelhantes em diversos outros locais
do Brasil”, conta.
De
acordo com o pesquisador, um dos principais objetivos práticos
da astronomia indígena era sua utilização
na agricultura. Por meio da observação da
lua, eles sabiam, por exemplo, que há uma maior incidência
de mosquitos na lua cheia do que na lua nova. Dados como
esses poderiam ser úteis, por exemplo, para os órgãos
de saúde no Brasil combaterem, hoje, o mosquito Aedes
aegypti, transmissor da dengue, determinando qual o melhor
período para promover ações de dedetização.
Elton
Alisson, da Assessoria de Imprensa da SBPC, para a Agência
SBPC