Prova dos vírus
quinta-feira, 7 maio, 2009 14:53
Por Thiago Romero
|
Foto: CDC |
|
|
 |
|
|
Primeiros
testes diagnósticos da gripe suína no
Brasil deverão ter início na semana que
vem em três laboratórios colaboradores
da Organização Mundial da Saúde,
segundo pesquisadores da USP |
|
Agência
FAPESP – Os primeiros casos de pacientes
brasileiros possivelmente infectados pelo influenza A (H1N1),
que causa a gripe suína, deverão começar
a ser diagnosticados no início da semana que vem
em território nacional, de acordo com docentes da
Universidade de São Paulo (USP) reunidos em evento
no Instituto da Criança da USP, na manhã desta
quarta-feira (6/5), na capital paulista.
Isso porque os laboratórios
e órgãos de saúde pública no
Brasil estão prestes a receber, do Centro para Controle
e Prevenção de Doenças dos Estados
Unidos (CDC, na sigla em inglês), os kits de biologia
molecular para o diagnóstico de pessoas infectadas
pelo vírus no país.
“Os laboratórios
devem começar a receber os kits ainda no fim desta
semana, quando poderão dar início aos testes
para sabermos quantas são as pessoas no Brasil que
de fato contraíram o H1N1 suíno. Certamente
muitas crianças e adultos suspeitos no país
contraíram outras formas da doença”,
disse Edison Durigon, professor titular do Departamento
de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas
da USP.
Segundo ele, os kits devem chegar
primeiramente a três laboratórios colaboradores
da Organização Mundial da Saúde (OMS),
o Instituto Adolfo Lutz, a Fundação Oswaldo
Cruz e o Instituto Evandro Chagas, para em seguida serem
enviados a outros órgãos de saúde no
país.
“Ao mesmo tempo, a OMS
e o CDC já disponibilizaram em suas páginas
na internet toda a sequência de reagentes necessários
para a montagem dos kits por qualquer laboratório
interessado. E muitos deles, em diversos países,
já estão usando esse protocolo para elaborar
o kit diagnóstico”, explicou Durigon.
De acordo com o pesquisador,
existem três tipos do vírus influenza: A, B
e C. O vírus da gripe suína que surgiu no
México e que se espalhou por 22 países é
da família dos vírus de tipo A, o que o tornou
conhecido pela OMS como influenza A (H1N1).
Os diferentes subtipos da gripe
são definidos em função das proteínas
do envelope viral, sendo que os vírus A e B têm
dois tipos de proteínas de superfície: a hemaglutinina
(H) e a neuraminidase (N).
“A hemaglutinina é
a proteína responsável pela adesão
do vírus e pelo seu primeiro contato com a célula,
enquanto a neuraminidase faz com que o vírus penetre
e se replique na célula”, disse.
A denominação H1N1
atual, que é uma mistura de duas cepas suínas,
uma aviária e uma humana, corresponde, portanto,
à hemaglutinina de tipo 1 e à neuraminidase
de tipo 1. “Existem hoje 15 tipos diferentes de hemaglutinina
e, pelo menos, nove de neuraminidase, o que permite combinações
que podem gerar, teoricamente, uma infinidade de novos vírus”,
conta.
Segundo Durigon, todos os 15
tipos de hemaglutinina e os nove tipos de neuraminidase
coexistem nos anatídeos, família de aves aquáticas
que inclui patos, gansos e marrecos.
“Os anatídeos foram
contemporâneos dos dinossauros e o vírus influenza
também existe desde aquela época. Por isso,
há até quem diga que os dinossauros foram
extintos por causa do influenza, enquanto os anatídeos
existem até hoje e são considerados hospedeiros
naturais do influenza, especialmente os patos”, explicou.
Gripe suína
e sazonal
O vírus influenza A (H1N1)
da gripe suína é diferente do H1N1 da gripe
sazonal, o vírus de origem humana mais comum e que
responde por uma taxa de letalidade de 0,5%, enquanto que
as mortes causadas pela variação suína
do vírus já representam 0,6% dos casos confirmados
de pessoas infectadas.
Em sua escala de risco de pandemia,
a OMS considera o nível 5 de alerta em relação
à influenza A (H1N1), sendo 6 o nível máximo.
Até o momento, de acordo com os números oficiais
da OMS, 1.516 pessoas já contraíram a gripe
suína em todo o mundo, com 30 óbitos registrados.
O estado de pandemia ocorre,
explicou Durigon, quando há uma epidemia do mesmo
vírus em pelo menos dois continentes e é nesse
momento que a OMS decreta a classificação
6 em sua escala. “Isso ainda não ocorreu oficialmente,
pois acredita-se que a maior parte dos casos registrados
ao redor do mundo, apesar de crescerem rapidamente, seja
importada de outros países. Mas tudo indica que teremos
um vírus pandêmico muito em breve”, apontou.
Marcelo Vallada, infectologista
clínico do Instituto da Criança do Hospital
das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina
da USP, também presente no encontro, destacou os
grupos de risco do vírus influenza, entre os quais
crianças, idosos e pacientes de qualquer idade com
doenças cardiopulmonares crônicas.
“As gestantes têm
quatro vezes mais riscos de ter complicações
causadas pelo influenza, quando comparada a mulheres sadias
não gestantes da mesma idade. Por isso, existe uma
recomendação da OMS para que todas as gestantes
tomem a vacina da gripe”, alertou.
De acordo com Vallada, calcula-se
que mais de 250 mil pessoas morram todos os anos no mundo
devido a doenças relacionadas ao influenza, em suas
diferentes linhagens. “Só nos Estados Unidos,
onde os dados são mais apurados, são estimadas
20 mil mortes anuais causadas pelo vírus.”
Viral Genetic
Diversity Network
Durigon é um dos coordenadores
gerais da Rede de Diversidade Genética de Vírus
(VGDN, na sigla em inglês), lançada em 2000
como um dos resultados do Programa Genoma FAPESP.
A VGDN também está
se organizando internamente, de acordo com ele, em seis
centros de pesquisa vinculados à rede para a realização
dos testes diagnóstico da gripe suína nas
máquinas “real-time PCR” (Polymerase
Chain Reaction), adquiridas com recursos da FAPESP.
São eles: Instituto Adolfo
Lutz, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
USP, Instituto de Medicina Tropical de São Paulo,
Instituto de Ciências Biomédicas da USP e Universidade
Estadual Paulista (Unesp), nos campus de Botucatu e São
José do Rio Preto, no interior paulista.
“A idéia é
disponibilizar a capacidade instalada na rede VGDN, por
meio dos laboratórios nesses centros de pesquisa,
a pesquisadores de outras entidades vinculadas à
Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Temos seis laboratórios montados com capacidade para
fazer as análises do influenza A (H1N1), seguindo
todos os padrões de biossegurança exigidos
atualmente pela OMS”, disse à Agência
FAPESP.
A VGDN é formada por dezenas
de laboratórios espalhados pelo Estado que estudam
as variedades genéticas de vírus. Para montagem
e treinamento da rede foram estudadas as variedades genéticas
de quatro vírus: HIV-1, tipo de vírus da Aids
mais comum no Brasil; o HCV, agente causador da hepatite
C; o hantavírus, que provoca a síndrome pulmonar;
e o vírus respiratório sincicial, responsável
por infecções no trato respiratório.
A VGDN se concentra na classe
de microrganismos que abriga os menores agentes causadores
de processos infecciosos de que se tem notícia. Apesar
de terem um genoma pequeno, estudá-los é fundamental
para entender a diversidade entre as cepas e as suas mutações.
Além de serem organismos
com estruturas genéticas instáveis, os quatro
vírus do projeto têm características
em comum, fato que pesou na sua escolha como objeto de estudo
da VGDN: todos causam doenças com alto grau de letalidade,
para as quais ainda não há vacinas.
Ao capacitar laboratórios
de várias cidades de São Paulo a lidar com
vírus, a VGDN persegue ainda o objetivo de dotar
o Estado de um conjunto de laboratórios que, no futuro,
poderão ser utilizados de forma permanente e corriqueira
pela Secretaria de Estado da Saúde.
Mais informações
sobre a Rede VGDN: www.lemb.icb.usp.br/vgdn/www